terça-feira, 30 de junho de 2009

O Vento


-Você não tem medo do vento?-ele perguntou curioso.
-Não - respondeu ela calmamente.
-Esses uivos me dão arrepio!- disse ele fechando a cortina e esfregando os braços.
-O vento é livre, ele brinca e quando não lhe dão passagem ele grita, só isso, como criança quando faz birra.
-Por que você fala assim?
-Assim como?
-Assim,com essa... naturalidade!
-Eu queria ser como o vento- disse ela, ainda com os olhos no livro que estava lendo.
-Você queria fazer birra?- diz ele numa frustrada tentativa de fazer piada.
Ela o ignora, tira os olhos do livro e olha para longe, com o olhar vazio de quem sonha acordado
- Não, eu queria ser livre...
-Mas você é livre, Amanda!
-Sim, e o que eu faço com a minha suposta liberdade? Nada. Sou prisioneira das minhas escolhas.- Ela fecha de vez o livro e o encara.
-Você pode escolher ser livre.- encarando-a em resposta.
-Isso envolve muita coisa Rubens, você sabe...responsabilidades, não posso abrir mão delas.
-Mas pode abrir mão da sua felicidade? Me diz Amanda, você é feliz?
-Claro que sou! Eu tenho casa, comida, estudo num bom lugar...
-Não não, a pergunta certa é: você "está" feliz?
Ela abaixa os olhos e volta a abrir o livro - Pára com isso, Rubens, me deixa...
-Amanda, eu não vejo você rir há semanas! E agora você vem com esse papo de que não é livre, o que está acontecendo?
-Nada!Foi só um pensamento bobo que eu tive, esquece.
-Não esqueço, não!- diz Rubens, sentando ao lado dela- Eu me importo com você. Não quero te ver assim, triste, fazendo as coisas por obrigação...-Então, por acaso, ele vê o que havia dentro do livro que ela segurava- Você sente falta dele né?
Amanda, que fingia ler, fecha o livro imediatamente, como num reflexo. Ele, como quem acabara de compreender tudo, encara ternamente aqueles olhos negros e agora marejados, levanta-se e volta a fechar as janelas, que batiam furiosamente em resposta ao vento. Ainda tentando controlar algumas lágrimas que insistiam em cair, ela abre seu livro novamente e continua a admirar a fotografia: um belo rapaz de cabelos pretos, olhos pequenos e com o sorriso mais bonito que ela já vira.