sábado, 23 de outubro de 2010

Não tem preço.

Escolhas existem, sempre existirão. Mas à medida que o tempo passa, que a responsabilidade aumenta, elas vão ficando mais importantes, mais necessárias, mais significativas e infelizmente mais difíceis.
Esperei por uma oportunidade de estágio durante quase 2 anos. Procurei bolsas e mais bolsas, na esperança de poder gostar mais desse meu curso. De poder viver o dia a dia de um laboratório, de ganhar experiência e poder pôr em prática aquelas teorias todas. Não consegui uma bolsa, elas são perseguidíssimas. Mas devido a minha insistência quase irritante, consegui uma oportunidade de trabalhar no laboratório que supostamente é um dos melhores da química da Ufrgs, e com uma professora/orientadora que supostamente é a mais querida de todas as queridas do mundo. Não, só da Ufrgs mesmo. Só que esse trabalho é voluntário e exige o mesmo comprometimento de quem ganha dim dim no fim do mês.
Em contrapartida, já é quase novembro, faltam pouco mais de 2 meses para o fim do ano e... Para o quê? Para o quê? Para as férias! E eu gosto de férias. É, eu adoro férias. Tá bom, tá bom, eu amo férias! Amo amo amo!
E agora? Estágio ou férias? Férias ou estágio? Escolher, é preciso.
Depois de muito pensar, muito, muito, muito, mesmo...depois de avaliar cuidadosamente minhas alternativas, depois de muita culpa e autoflagelação... Sim, eu escolhi as férias. É isso mesmo!
Eu quero é me mandar pro interior. Quero ir pra minha casa de verdade. Quero acordar vendo manhãs ensolaradas e ouvindo os gritos histéricos da minha mãe. Quero ir visitar meu pai, naquele mato cheio de mosquitos, e sorrir para ele enquanto ouço suas lições de moral. Quero abraçar minha nona enquanto ela me dá bala, tomar café com bolacha e comer uma fatiazona de pão com chimia de pêssego. Quero buscar o chinelo do nono, sentar ao lado dele na caixa de lenha e pedir pra ele contar só mais uma vez aquela história que eu já sei de cor. Quero brincar de lutinha com meu irmão e poder ver ele dançando chula. Quero fofocar com minha irmã enquanto a gente arruma o cabelo ou pinta as unhas. Quero namorar bastante o meu namorado, saber que ele está bem pertinho de mim, mesmo morando do outro lado da cidade, poder ligar pra ele, dizer: “Vem aqui ficar comigo?”, e saber que em poucos minutos ele vai chegar, vai me abraçar apertado e pedir ‘beijinho’. Quero sair muito com minhas amigas, nem que seja pra ficar sentada no canteiro da avenida e se sentindo um presunto, quero rir muito, festejar muito. Quero ser muito feliz!
Há muito tempo venho adiando isso tudo e confesso que demorei para descobrir o porquê daquele vazio tão grande. Demorei para entender do que eu sentia tanta falta. Que mania de querer abraçar o mundo! De achar que tudo tem que ser feito pra ontem. De sentir culpa por fazer o que se gosta em vez das milhares de obrigações. Chega. É, chega desse medo de ser feliz. Chega dessa febre de responsabilidade e desse terror aos julgamentos. Afinal, "a vida é minha, o probrêma é meu, iarnuôôôu”. Eu fui politicamente correta a minha vida inteira e isso diminui o peso da minha rebeldia.
O estágio eu posso fazer depois, eu nem queria trabalhar de graça mesmo. E eu sou jovem, grande e forte, tenho muito tempo para terminar a faculdade, correr desesperadamente atrás de estágios e tenho a vida inteira para crescer profissionalmente e conquistar uma carreira de sucesso.
Viver e sentir aquilo tudo, não tem preço.